
Carla intitulou a tese como: "Experiência da fragilidade: deslocamentos entre o ensaiar e o ensaiar-se na escrita e na formação de coordenadores" e a defendeu em dezembro de 2015 na UNICAMP.
Vou compartilhar aqui algumas anotações que ousei fazer sobre essa tarde maravilhosa com a equipe NUPAE em discussão sobre a defesa de doutorado de Carla e sua tese.
Carla nos falou de Deleuze, entre outros autores que deram contorno as suas inquietações e desejos de pesquisa. Segundo Carla para escrever, pensar e exercitar a escrita, foi necessário se encontrar com o "devir escritor rato", o "devir escritor lobo", ou seja, resgatar o animal que do homem foi retirado pela ciência (instinto).
Carla nos falou sobre a dificuldade de estar nesse lugar em Deleuze, lugar que não está no campo da decodificação, do pragmatismo, dos resultados de pronto. Sua tese em forma de ensaio reverberou em desconforto de estar fora dos padrões tradicionais de escrita. Por que? Por que ler a tese de Carla deixa algumas pessoas incomodadas, insatisfeitas? Será que é o tipo de escrita de sua tese? Será que é o jeito como lemos a tese? O problema está na tese ou em mim que a leio ou como eu tento lê-la? Geralmente apontamos o erro para o outro, nunca em nós mesmos. Vejamos diferente, se não é a escrita, eis que surge uma questão: COMO EU LEIO AS COISAS?
Se, a Filosofia: cria conceitos, a Ciência: cria referências (não verdades) e a Arte: cria os perceptos e a afecção.
É natural que sua tese, que atravessa a escrita poética, a literária e a arte, não se encaixe nos padrões das ciências ditas duras. E isso não é "não ciência", podemos dizer que é ciência talvez até mais complexa, que clama por outros caminhos, outras formas, outros métodos, outros olhares, outros espaços.
Carla teve outras percepções com a defesa de sua tese, por exemplo, nós leitores somos sujeitos leitores desconfiados das palavras. Temos a mania, até incontrolável, de relacionar os sentidos e significados das palavras, nós não lemos o texto por ele próprio! Não conseguimos transcender da leitura de percepção, da leitura da razão; Não conseguimos nos distanciar de nossas verdades, sedimentadas pela experiência, pelo próprio status muitas vezes de um mérito de "mestre em..." Ou de "doutor em...". Não conseguimos "não colocar as nossas verdades" sobre aquilo que lemos.
A pesquisadora do NUPAE nos falou que é muito difícil ler de forma aberta, disponível a ter experiências outras que nos "desloquem daquelas verdades", como disse antes, que naturalmente possuímos. É o ver e nesse caso "ler" diferente e, para isso, é necessário disponibilidade, generosidade e humildade. Reconhecer que estamos sendo, sempre, em devir, sempre aprendendo.
Carla disse que é preciso desconstruir esse "eu" como mundo de verdades e buscar o mundo fora do "eu". Pesquisar nesse viés, ensaio, deleuze, experiência, arte... É reunir registros percebidos, captados, sentidos...
Registros serão sempre subjetividades, singularidades e não são conceitos, pois conceitos é categorizar, generalizar, encaixar. Fazer equiparações, ou, numa escrita, bailar entre estes termos sem responsabilidade ou conhecimento de que estas palavras são de espaços diferentes, são equívocos conceituais.
Carla buscou em sua escrita
estar entre a escrita heróica e a escrita hiper crítica, buscou uma
relação de alteridade e se apropriou das falas dos autores como se
fossem dela:
Modos de Escrita
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Heróica
Walter Benjamin
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Escrita de Carla Algo entre o heróico e a crítica.
Coerência e equilíbrio.
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Hiper Crítica, Dramática
Tudo errado, nada presta.
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Isso porque a forma Ensaio
como tese não segue estruturas, mas, nesse acontecimento, problemas
foram percebidos em relação a comunidade científica, formada por
todos nós, pesquisadores, professores, alunos e comunidade, vulgo
"academia".
Problemas:
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Percepções:
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O que não se conhece;
O que não se consegue enquadrar;
O que não se domina;
O que não se tem poder sobre;
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NÃO SE ACEITA!
Pois é difícil a qualquer pessoa, equipe ou organização, sair da zona de conforto e aceitar ou readmitir o
Ensaio como formato de escrita séria e capaz de gerar novos
conhecimentos, percepções, afecções, referências,
entendimentos e, como queiram, conceitos etc.
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Ficou a dúvida:
A escrita é consequência
do pensamento? Ou a escrita é o próprio exercício do pensar?
Somos lineares na escrita? Devemos ser?
Ou somos complexos na
escrita? Bem como somos enquanto sujeitos históricos culturais.
Carla expressa que sua tese
surgiu como forma de ensaio pelo "não lugar", pelo "não
saber", como nos explicou Deleuze, é um não lugar e um não saber
inconsciente, sem racionalizar. Carla só se deu conta que estava
escrevendo em forma de ensaio no final do processo do Doutorado e, principalmente, no processo final de escrita.
Obrigada
Daniela Viana
Fotos do Encontro:
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